Vox nostra resonat
A guitarra na GalizaGuitarristas da Galiza na emigração (2)
Isabel Rei Samartim
No artigo anterior víamos agrupamentos com guitarras e cordofones de plectro ligados ao Centro Galego da Havana e começávamos com . Mas em Cuba houve mais galegos guitarristas que podiam dirigir este tipo de grupos musicais:
José Fernandez Vide
O
organista ourensano José Fernandez
Francisco Rodriguez Carballés
Francisco
Rodriguez
Por
último, o guitarrista limião
O Centro Galego de Buenos Aires
No
mesmo ano em que se fundava o Centro Galego da Havana, 1879, também começava o
de Buenos Aires. Por motivos diversos, o de Buenos Aires deixou de funcionar
desde 1893 a 1907. Por isso todas as notícias de guitarristas ligadas a esta
instituição são do século XX. Porém, as pesquisas realizadas permitiram traçar
alguns elementos indispensáveis para os guitarristas em Buenos Aires durante o
último terço do século XIX.
O
elemento mais importante em torno do que girava a vida musical guitarrística em
Buenos Aires entre 1870 e 1900 é a loja-armazém, escola, editora, oficina de
construção e salão de música do baixo-minhoto
Consultando
as notícias desta época e tendo em conta o número indiscriminado de pessoas
galegas que emigrou à América Latina, e a necessidade dessas pessoas de
continuar em contato entre elas, vemos que na província argentina de Corrientes
também havia um Centro Galego em 1879 (El
Correo Gallego, 1879).
Juan Alais, Tarantino e Salgado
Um
outro elemento de estudo era a atividade de Juan Alais, o concertista argentino
mais destacado. Alais era próximo da comunidade galega em Buenos Aires e também
na Havana, como vimos no artigo anterior. Outro facto que impulsou a guitarra
em Buenos Aires foi a chegada do valenciano Casimiro
Estava
por esta época na Argentina o padre corunhês José Maria
Música galega para além do Centro Galego
Por
outro lado, a carência de funcionamento a partir de 1893 do Centro Galego não
impede que os músicos galegos continuem com as suas atividades que, por falta
de um local próprio, tinham de realizar-se no de outras sociedades. Assim, a
organização dos músicos galegos em Buenos Aires girava em torno aos
agrupamentos musicais como o Orfeon
Gallego, fundado em 1890, depois dividido em dois: Orfeon Gallego Primitivo, e Orfeon
Gallego, o agrupamento do Centro Galego, Orfeon Centro Gallego, e os sucessivos orfeões que foram fundados
anos mais tarde.
Em
1906 na velada em honor a Pascual
Como
exemplo, em 1894, no teatro do Centro Union
Obrera Española, o Orfeon Gallego
celebrou um evento dramático-musical em que, além de uma orquestra dirigida por
Também
em novembro de 1894, o compostelano Júlio
Júlio Mirelis no Rio de Janeiro
Antes
de entrar a dirigir o orfeão do Centro Galego de Buenos Aires, Mirelis estava
no Brasil. Ele deveu adquirir a nacionalidade brasileira e entrar na elite do
país, pois casou com a brasileira Noemia Fialho e chegou a ser auxiliar do
cônsul brasileiro em Barcelona. Esse pôde ser o início da sua carreira como
diplomata que depois ampliou à Argentina.
Antes
de se apresentar em Buenos Aires, Mirelis dirigiu, e possivelmente fundou, no
Rio de Janeiro o Orfeão Lira Gallega,
o que deve ser um dos primeiros orfeões galegos no Brasil. Só temos duas
notícias da atividade deste orfeão, dos anos 1893 e 1894 e nas duas Mirelis era
o regente. No jornal brasileiro O Paiz (1893),
um autor que assinava como Sávon publicava uma breve nota de felicitação a
Julio Mirelis pela atuação do orfeão Lira
Gallega na sociedade El Casino
Español do Rio de Janeiro. A nota, intitulada Viva Galicia!, era publicada em castelhano e replicada na Gaceta de Galicia em 1894 com o
acréscimo referente às lembranças que de Mirelis guardavam os redatores do
jornal.
Os
galegos emigrantes integravam-se dentro da sociedade brasileira de modo
semelhante aos emigrantes portugueses, que eram também vistos como galegos. Não
há notícias de centros galegos no Rio de Janeiro no fim do século XIX, a Casa de Galícia funda-se em 1947 e em
1983 conflui com o Centro Espanhol para formarem a Casa de Espanha. Esta aparente falta de associacionismo galego no
Brasil pode dever-se a que as necessidades reivindicativas galegas diminuíam em
contextos lusófonos e intensificavam-se em contextos hispanófonos. Nos países
americanos onde a língua era o castelhano, os galegos abrigavam-se dentro da
própria comunidade, entretanto nos países onde a língua portuguesa era a oficial,
os galegos não precisavam tanto dessa união de origem. Explicou a professora
Mariana Novaes (2013) no seu estudo sobre a emigração galega no Rio de Janeiro,
que a coletividade espanhola no Brasil era a terceira em importância após a
portuguesa e a italiana, sendo que a maior parte desses espanhóis, entre 60 e
70%, eram na realidade galegos:
Tais índices
podem ser explicados pela similaridade linguística do idioma galego com o
português, a proximidade aos portos de embarque portugueses e a existência de
uma corrente migratória prévia rumo ao Brasil intermediada por Portugal.
A
emigração maciça dos galegos ao Brasil teria acontecido a partir de 1890.
Assim, o nosso guitarrista e diplomata Mirelis teria sido mais um dos numerosos
galegos embarcados nessa grande vaga migratória, abertos a procurar o seu
futuro no país-continente de língua portuguesa.
Continua no próximo artigo.
Referências citadas
- Almuinha, Ramom Pinheiro. (2008). A la Habana quiero ir: los gallegos en la música de Cuba. Santiago de Compostela: Sotelo Blanco.
- El Correo Gallego. (1879). “De La Colonia Española de Montevideo. Centro Gallego”. Ferrol: 12 de dezembro, p. 2.
- El Eco de Galicia. Órgano de los gallegos residentes en las repúblicas sud-americanas. (1894). “Orfeón gallego”. Buenos Aires: 20 de agosto, p. 7.
- Fernandez Vide, José. (2011). Violetas. Valses para dúas guitarras. Baiona: Dos Acordes.
- Jurado Luque, Javier. (2003). Mestre Vide. Obra Completa. 4 v.: I: Piano. II: Voz e piano. III: Música Coral. IV: Zarzuela. Ourense: Deputação.
- Novaes, Mariana Gonzalez Leandro. (2013). “Os ‘galegos da Galícia’ no Rio de Janeiro”. Comunicação. Seminário Nacional de Memória Social (8-10 de maio).
- O Paiz. (1893). “Viva Galicia!”. Rio de Janeiro: 12 de dezembro, p. 3.
- Vilanova Rodriguez, Alberto. (1966). Los gallegos en la Argentina, 2 v. Buenos Aires: Ediciones Galicia.
- Villanueva Abelairas, Carlos. (2006). “José Fernández Vide (1893-1981): La figura y la obra de un músico de la emigración”. Porta da aira. Revista de historia del arte orensano(11), pp. 269-289.
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