Vox nostra resonat
A guitarra na GalizaA Tuna Compostelana no século XIX
Isabel Rei Samartim
O estudo sobre a Tuna Universitária em
Compostela publicado por
No estudo referido, Cores estuda as Tunas
compostelanas entre os anos 1877 e 1900, onde explica a sua influência na vida
social da cidade, a figura de
A tuna de Santiago, desde que empezou a saír
por terra galega, cumpría unha función unificadora e reforzadora da conciencia
galega. Como grupo integrado por membros procedentes dos mais distintos puntos
de Galicia, con frecuencia atopaban en cada lugar que visitaban a colaboración
necesaria que lles daba a familiaridade con determinadas persoas, sobre todo
dada a condición socioeconómica e o status social dos seus membros.
Membros honoríficos da sociedade compostelana ligados à Tuna
Os presidentes, regentes e representantes das
Tunas estudadas por Cores Trasmonte foram o estudante de direito Antolin
Mosquera Montes, representante da Tuna de 1877 que pronunciou um discurso perante
o rei Alfonso XII. O regente da Tuna de 1881 era o excelente músico Manuel
Valverde, sendo o presidente, Rafael Villar e o abandeirado Pedro Labrada
Mendoza. A Tuna de 1885 estava presidida por José Boente Sequeiros e regida pelo
grande violinista José
A Tuna de 1886 procurou financiamento noutras
cidades, assim as figuras das "madrinhas" e dos "presidentes
honorários" implicavam ajudas económicas para a organização dos eventos. O
presidente era Manuel Salgado, vice-presidente era José Rodriguez
Mas, no zenite da organização da Tuna, em 1888,
o regente era o músico profissional José
Parga, José Courtier e a Tuna Compostelana
A Tuna de 1889 achou o guitarrista ferrolano João
Sobre a amizade entre Parga e José Courtier é
importante matizar o seguinte: Cores diz que Parga teve amizade com Hilario
Courtier, mas Cancela (2013) ao traçar a vida dos componentes da família
Courtier deixa claro que Parga só poderia ter coincidido com José. Além disso,
a raiz das leituras para o apartado de Cesáreo
O tecido cultural e guitarrístico galego
Da Tuna de 1891 foi presidente Gerardo Doval
Rodríguez e regente Saturnino Echevarri (La
Monarquia, 1891), sendo os guitarristas Enrique Grimaldos, Francisco Munaiz,
Manuel Banet, Severino Trigo, Manuel Carreras, Angel e Manuel Allones, Manuel
Varela, Manuel Garcia, Francisco Arbea, Gregório Gondra, Gregório
O resto de componentes eram o escritor
pontevedrês Henrique
Muitos destes nomes têm personalidade própria
na música galega pelo seu contributo como intérpretes, diretores de diversos
tipos de agrupamentos e coros, mas também na área das letras, como o poeta,
jornalista e desenhador Henrique Labarta Posse, e o também jornalista e diretor
da Gaceta de Galicia, Mariano
Fernandez Tafall, jornal histórico bem conhecido das leitoras destes artigos.
Uma Tuna grande demais e a guerra em Cuba
A de 1895 era, segundo Cores, grande demais. O
presidente era Miguel
A partir de 1895, os efeitos da guerra em Cuba
começavam a afetar enormemente a sociedade galega. Os estudantes eram todos
varões e estavam a ser levados para a guerra, pelo que as estudantinas ficavam
sem elementos. Em 1896 e 1897 Alfredo
A Tuna Clássica galega a Paris
Nesse ano de 1900, a intitulada Tuna Clásica preparava-se para uma
viagem a Paris, sendo presidente o intelectual pontevedrês Víctor
La "Tuna Clásica Española".- Dicen de París que la Reina Isabel ha recibido la visita de la Tuna Clásica Española.
Asistieron á la residencia de la abuela de Alfonso XIII, distinguidas personalidades.
La Tuna, que ejecutó casi todos los números de su repertorio, obtuvo calurosos plácemes.
A composição da Tuna de 1900 publicada em La Idea Moderna era: presidente Víctor
Said, vice-presidente German G. Armesto, secretário Urbano Santamaria,
tesoureiro
Seria a Tuna Clásica galega de Álvaro Soto a
representante da Espanha em Paris. Algo semelhante deveu acontecer nos tempos
da Estudantina de 1878 em que o vice-presidente era, como já tratamos, o
guitarrista José Castañeda. Mais para a frente, no apartado de guitarristas
pintores veremos mais um fragmento da história da Tuna Compostelana em 1906
através da visão de um dos seus ilustres integrantes, Daniel
Os
pintores guitarristas
Ao longo das nossas pesquisas achamos um não
pequeno grupo de pintores guitarristas, e/ou violinistas, de final do século
XIX e começo do XX, que merece um breve apartado. Depois dos precedentes do
período de entreséculos anterior, onde destacavam os desenhos de José Dionisio
Valladares, aparecem vários continuadores cujo elo comum é o amor pela música e
a guitarra.
Os grandes Ovídio
Manuel Quiroga Losada foi um autêntico músico
profissional cuja carreira internacional como violinista eclipsou o seu ótimo
trabalho como pintor. O rianjeiro Castelão foi um intelectual completo que
ampliou a sua formação universitária e artística com um elevado compromisso
político e social, o qual renovou o pensamento galeguista do seu tempo e
assentou as bases do nacionalismo galego moderno. Entre os seus desenhos de
músicos, algum dos quais são autorretratos, está o dum homem tocando a
guitarra, cujo original é conservado no Museu da Ponte Vedra. Seixas (2019, p.
211) retrata-o assim:
Castelao, alto, delgado, esbrancuxado, con lentes graduadas redondas, as puntas do bigode reviradas cara arriba, á moda, e voz de tenor, incorpórase no outono como primeira corda á nova Tuna Universitaria.
Afonso Daniel Rodrigues Castelão, tuno
Seixas está a falar do curso 1905-1906, em que
Castelão realizava o seu terceiro ano a estudar na Faculdade de Medicina em
Compostela. Na tuna desse ano, Seixas aponta que também figurava como
bandurrista da Tuna, Roman Perez da Cal, médico e amigo de Castelão. Perez da
Cal foi pai do grande intelectual, filólogo e escritor ferrolano, Ernesto
Guerra da Cal. A amizade entre Roman Perez e Castelão foi estudada por Gômez
(2009, pp. 24-25).
Mas, parece que Castelao tinha aprendido a tocar guitarra anos antes, na Pampa argentina, aonde tinha ido com a família. Esta informação parte do testemunho de Joaquin Pesqueira refletido em Seixas (2019, I, p. 144):
Castelao suele decirme con frecuencia que allí aprendió a tañer la guitarra, a cantar vidalitas y a recitar versos de Martín Fierro.
Sempre citando Seixas (2019, I, pp. 212-217), a
Tuna Compostelana começa a organizar-se no outono de 1905, ensaia no paço de
São Jerome durante o Natal e prepara a saída do próximo Entrudo, já em
fevereiro de 1906. Apresenta-se na imprensa em 15 de fevereiro, toca no Teatro
Principal de Compostela e depois viaja à Corunha e ao Ferrol. Em 23 de
fevereiro os tunos enfiam caminho para Portugal, onde tocam em Lisboa e
Coimbra. Dous anos mais tarde, em março de 1908, a Tuna coimbrã visitaria
Galiza (Coelho et al., 2012, p. 181). De regresso, praticamente sem dinheiros e
recebendo as ajudas dos tunos portugueses, a Tuna Compostelana toca em Vigo no
dia 8 de março e no dia a seguir, em Compostela. Castelão deixa um testemunho
da sua visita a Portugal no Sempre em
Galiza, onde exprime uma crítica aos tunos da Casa da Tróia na linha de
Mas nem todos éramos estudantes da Casa da Tróia. Alguns voltávamos de Portugal com os olhos prenhes de formosura e com o coração fendido de saudades, mui ledos de termos visto ali o nosso próprio génio em liberdade. Também algum de nós trazia livros de versos e aprendia-os de cor. E não era raro que de volta de Portugal um estudante, que bem podia ser o autor deste livro, ficasse mais Galego que dantes e com ânimos de desentolher as possibilidades duma Galiza ceive.
Lembremos que Castelão escrevia isto depois do
ano 1935 em que começou a publicar os primeiros retalhos do Sempre..., quando já Luís Seoane tinha
integrado a Tuna de 1930 e duas décadas após a primeira publicação do livro de
Lugin. Nesse momento, a sensação de que a Casa da Tróia era um núcleo de
superficialismos estava consolidada entre o estudantado. Mas, Castelão integra
a Tuna em 1905-1906, muito antes de tudo isso acontecer. A investigação
histórica sobre a guitarra deixa-nos aqui um exemplo de como a pesquisa musical
é capaz de ilustrar processos sociais e políticos como, neste caso, a evolução
do pensamento galeguista. Daí que seja imprescindível analisar e entender no
seu contexto o papel da Casa da Tróia em favor da história da guitarra e da
Galiza.
Referências citadas
- Acuña, Xosé Enrique. (2000). As imaxes de Castelao. Fotobiografía. Vigo: A Nosa Terra.
- Cancela, Beatriz e Alberto. (2013). La
saga Courtier en Galicia. Santiago de Compostela:
Alvarellos Editora.
- Castelão, Afonso Daniel Rodrigues. (2010). Sempre em Galiza. Compostela: Através Editora.
- Coelho, Eduardo, Silva, Jean Pierre, Sousa, João Paulo e Tavares, Ricardo. (2012). Qvid Tvnae?. A Tuna Estudantil em Portugal. Porto, Viseu e Lisboa: CoSaGaPe.
- Cores Trasmonte, Bartolomé. (2001). A tuna de Santiago. Galiza: Fundacion Caixa Galicia.
- El Áncora. (1900). “La Tuna Clásica Española”. Ponte Vedra: 23 de outubro, p. 3.
- Gômez, Joel R. (2009). A trajectória de Ernesto Guerra da Cal nos campos científico e literário. Tese de doutoramento. Compostela: Universidade de Santiago de Compostela.
- La Idea Moderna. (1900). “Tuna
clásica escolar”. Lugo: 4 de julho, p. 2.
- La Monarquia. (1891). Ferrol: 31
de janeiro, pp. 2-3.
- Saiz Ocaña, Teresa. (Coord.). (2019). Castelao grafista. Madrid: Fundacion Torrente Ballester.
- Seixas Seoane, Miguel Anxo. (2019). Castelao. Construtor da nación. Tomo I. 1886-1930. Vigo-Compostela: Editorial Galaxia.
- Villanueva Abelairas, Carlos. (2014). Víctor
Said Armesto. Una
vida de romance. Compostela: USC.
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